Crônica publicada no meu perfil do Medium
Você pode conferi-la aqui: https://bit.ly/30cVP9p
Uma crônica sobre a capacidade de abrirmos mão daquilo que achamos que deveria ser nosso
Não faz muito tempo que eu ganhei uma cachorra de presente de aniversário. Era uma espécie de sonho de criança ter um bichinho que me fizesse companhia durante as noites, já que grande parte do meu dia costuma ser preenchida com as rotinas do trabalho e da faculdade. Eu queria mesmo era uma criaturinha de quem eu fosse responsável por cuidar, educar e principalmente, amar. Esperava ansiosamente pelo dia em que eu teria um filhote em mãos, do jeitinho que sempre sonhei: um cachorro dócil, companheiro, carinhoso, que vivesse na dele, quietinho no canto, mas que ao mesmo tempo não dispensasse o calor de um bom colo. É, não foi bem isso o que a vida reservou para mim.
A minha cachorra, ou Pitty para os mais íntimos, chegou para desconstruir todo o ideal que eu tinha de um pet. Ela é totalmente autossuficiente, mimada demais (especialmente pelos “seus avôs”), tem personalidade forte e vem ao colo quando ela quer e não quando nós queremos. Ao contrário, se quer deixá-la brava é só tentar qualquer tipo de contato que não esteja de acordo com os seus interesses, que se resumem basicamente em comer e dormir. Ela passa o dia explorando a casa e se divertindo com cada migalha de pão que cai sob a mesa. Um cachorro na rua ou uma visita inesperada já são motivos de alegria para ela. A minha cachorra não precisa de mim e perceber isso foi um grande baque.
Eu tinha uma ideia totalmente diferente do que eu esperava que um pet fosse, especialmente de um cachorro, já que ele costuma ser mais apegado aos seus donos. Mas a verdade é que a gente idealiza demais. É verdade também que nos comparamos com outras pessoas, situações e com experiências do nosso próprio passado para construirmos um cenário do que consideramos ideal. O que não podemos prever é que, às vezes, o nosso cachorro não vai precisar de nós e que está tudo bem.
Algumas coisas na vida se a gente tenta prender ou controlar demais acabam escapando por nossas mãos. É exatamente isso o que acontece com a minha cachorra. Toda vez que vou atrás dela e tento aconchegá-la em meu colo, ela se desvai, como em uma tentativa de dizer que ela vem até mim quando quiser meu carinho, que ela sabe onde me encontrar quando se sentir sozinha. Talvez essa seja a questão, você deixar ir aquilo que ama. O que é seu de verdade sabe onde te encontrar, e se por ventura ele não vier, bem, pode ser a hora de você entender que certas coisas são feitas para serem livres.
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