Texto publicado no G1 Sorocaba e Jundiaí: https://bityli.com/oTT02
Projeto começou de forma anônima e hoje leva esperança a dezenas de famílias que aguardam a recuperação de seus entes queridos em hospital de Sorocaba (SP).
Um gesto de generosidade tem levado um pouco de esperança às famílias que aguardam a recuperação de seus entes queridos internados por Covid-19 no Hospital Evangélico de Sorocaba (SP).
O técnico de enfermagem e estudante de fisioterapia Emerson de Lima Manoel, que trabalha na UTI do hospital, percebeu o desespero das famílias, que só podiam interagir com os pacientes internados através dos vidros. Com isso, teve uma ideia que repercutiu no hospital: a de servir como ponte de contato entre os parentes e doentes.
Ao G1, Emerson contou que passou a ver muito sofrimento nas famílias que não podiam estar próximas das pessoas amadas, o que o sensibilizou. "Naquele momento, eu percebi que, na verdade, os familiares também adoecem", comenta.
Foi a partir daí que, há três meses, de forma anônima, ele teve a ideia de se apresentar às famílias e perguntar se queriam que levassem uma carta, um áudio ou uma reza a quem estava internado.
A iniciativa foi um sucesso. Para a surpresa dele, logo no plantão seguinte, todos os familiares levaram seus recados.
"O que mais me marca é o olhar de gratidão de cada família. Foi um gesto da minha parte muito simples, mas de uma grandiosidade para eles que até eu me surpreendi", relata.
Como um ato de carinho, Emerson disponibiliza áudios de filhos, esposas e pais para os pacientes ouvirem. Além disso, o técnico de enfermagem recebe muitas cartas, que são lidas aos internados como uma forma de matar um pouco a saudade da família e dos amigos.
Emerson ainda conta que faz esse gesto solidário em todo fim de plantão e que às vezes fica até depois do seu horário de trabalho para que possa ler todas as cartas aos pacientes.
"Eu percebo que parece que a família fica um pouco mais tranquila por alguém estar fazendo essa ponte de mensagem para eles e isso aí não tem preço."
O trabalho, que começou de forma anônima, logo ganhou repercussão. Alguém tirou uma foto do gesto solidário de Emerson e enviou à imprensa. Depois desse episódio, o número de cartas e áudios recebidos dobrou.
"Não é fácil, porque você acaba se envolvendo de uma forma indireta com os pacientes, porque você começa a conhecer as histórias deles e você percebe que são parecidas com a minha e com a sua", relata Emerson.
Amor ao próximo
Uma das histórias com a qual ele se envolveu foi a de Leila Maria da Silva Campos Machado, de 52 anos, moradora de Alumínio (SP), cujo marido está internado no hospital desde o dia 23 de janeiro. Estanislau Machado, de 61 anos, permanece desacordado, mas Leila tem a certeza de que ele ouve todos os seus recados.
"Um dia eu estava fazendo as minhas orações do lado de fora do vidro, vi que um enfermeiro passou e parou ali do lado. Foi na hora que eu terminei a visita que o Emerson perguntou se eu gostaria que ele levasse alguma cartinha minha para ler para o meu marido, porque eles ouvem. Ele me perguntou se eu acreditava nisso e eu disse que sim, porque eu tive uma experiência parecida com a minha mãe", comenta.
O marido dela, que é guarda municipal em Sorocaba há 29 anos, recebe áudios no celular, cartas escritas por amigos e familiares e até mesmo saudações da equipe da GCM.
"O Emerson é um ser humano maravilhoso, o que hoje em dia está escasso. Porque, para você se dedicar a entregar um áudio ou ler uma cartinha para cada paciente que está ali, você tem que ter muito amor ao próximo. Ele tem amor ao próximo, amor ao que faz."
"Eu falei que ele é um anjo que Deus colocou no meu caminho para levar um pedaço nosso daqui de fora para o meu marido lá dentro, para que ele saiba que a gente está aqui, torcendo e rezando e pedindo para que ele tenha forças. Eu só tenho que agradecer ao Emerson por tudo", comenta.
Leila ainda conta ao G1 que percebeu melhoras no quadro de saúde do marido e acredita que isso tenha relação com o gesto do técnico de enfermagem. "É claro que é Deus quem está fazendo a obra, mas o Emerson está falando por nós lá dentro."
Mesmo que o marido viesse a morrer, ela diz que estaria em paz por causa da atitude de Emerson, que se preocupou não somente com a dor do paciente, mas também com as angústias de quem estava do lado de fora. "Mesmo se Deus o chamasse de volta, ele iria com pedaços nossos. Então, ele não foi só, não ficou só", completa.
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